Há alguns anos passamos a aprender que devemos comemorar o Natal mais ou menos assim: enfeitar a casa com luzes; escolher uma árvore bem bonita e colocar bolas, sinos, neve falsa, bonequinhos do Papai Noel, mais luzes; uma guirlanda na porta de entrada da casa, meias vermelhas penduradas em algum lugar... O próximo passo é reunir a família. Cada um deve levar alguma coisa bem gostosa porque juntos vamos cear. Passo importante também é visitar o shopping para conhecer o Papai Noel.
Eu amo esse clima natalino. Sinto muita nostalgia de coisas legais que fazia em minha infância e adolescência. Na rua em que eu morava, no bairro São Lourenço, tínhamos um costume que não me canso de sentir saudade. Enquanto as famílias se preocupavam com o que iam nos dar de presente, nós nos presenteávamos com cartões. Isso mesmo: os fora de moda cartões de Natal. E eu amava essa troca, porque eu podia presentear todos os meus amigos. Quando não tínhamos dinheiro pra comprar, fazíamos com muito capricho e criatividade. E assim, nenhuma de nossas amiguinhas ficava de fora.
Mais tarde, na primeira igreja em que congreguei, me lembraram esse momento da minha infância. Foi decidido que trocaríamos cartões. Fizemos uma árvore de Natal toda decorada com cartões. Sorteamos os nomes, como se fosse um amigo secreto, para que ninguém ficasse sem cartão, mas podíamos levar para mais pessoas. O resultado foi uma árvore quase sem espaço no dia da ceia. Pois havíamos passado o mês todo colocando cartões para as pessoas que amávamos. Foi lindo.
Eu sempre amei as palavras e o poder que elas têm de nos alegrar, nos emocionar, nos encantar, nos apaixonar. Eu acredito que todos nós temos coisas boas dentro de nós e que, quando estimulados, conseguimos colocar para fora essas preciosidades. A Bíblia diz que a boca fala do que está cheio o coração (Lucas 6.45). Se encontrarmos em cada um de nós esse tesouro, teremos coisas boas a compartilhar com nosso próximo.
Que esse Natal possa ser melhor para nós. Que possamos ficar mais amorosos uns com os outros. Que possamos nos abraçar mais e dizer mais coisas bonitas para as pessoas que amamos. Pois não sabemos quantas oportunidades a mais teremos para dizer a elas o quanto são especiais. Que possamos, não apenas nos juntar para saborear a ceia mais gostosa do ano, mas dividir o que temos com aqueles que têm menos. Que possamos doar algo a alguém, mas que também possamos NOS doar a alguém.
Que nesse Natal, não passemos tempo no celular se não for para dizer o quanto amamos aquela pessoa que está distante; que a foto não seja mais importante do que o abraço que a antecede; e que não digamos somente "FELIZ NATAL!", mas que digamos também: "Obrigada!": Obrigada por me amar incondicionalmente, minha mãe, mesmo tantas vezes depois de eu desapontá-la; Obrigada, meu pai, por me mostrar o caminho e trabalhar duro para me ajudar a trilhá-lo; Obrigada, vovó, porque quando tudo estava tão difícil eu tive seu colo e seu afeto para acalmar as coisas; Obrigada, meu irmão, por ser o companheiro com quem sempre posso contar, por vencer junto comigo; Obrigada, meu esposo, por me amar, mesmo conhecendo meus defeitos, por cuidar de mim, por me ajudar a ser alguém melhor a cada dia; Obrigada, minha esposa, pelo carinho demonstrado nas pequenas ações, pelo zelo, por querer tornar cada momento especial; Obrigada, meus filhos, por se dedicarem tanto para fazer o papai e a mamãe felizes, por nos ajudarem, por nos amarem mesmo quando somos duros. Obrigada, meu Deus, por enviar alguém para me levar de volta a Tua presença, por me perdoar pelas coisas horríveis que eu disse e pensei, e pelas coisas erradas que fiz o ano todo, por, principalmente, entregar meu Jesus para morrer em meu lugar, me salvando e me levando à comunhão conTigo.
Por que estou dizendo essas coisas? O nome desse artigo não é "Afinal, pra que Natal?".
De que serviria comemorar o Natal se não desenvolvermos com ele o coração quebrantado e contrito? De que nos serviria comemorar o Natal, em que nasceu o maior perdoador de todos os tempos, se com ele não adquirimos coragem para pedir perdão por nossas falhas ou perdoar alguém que nos feriu. PERDÃO É CRISTIANISMO, ou, CRISTIANISMO É PERDÃO.
De que adiantaria comemorar o Natal, se com ele não vamos demonstrar amor a alguém?
"Um menino nos nasceu, um filho se nos deu" [...] SIM, mas esse Deus menino que gostamos de cantar não permaneceu menino. Ele cresceu, ele foi um grande homem, ele nos ensinou grandes coisas e depois se entregou à morte para nos ensinar que o preço para fazer o bem, mesmo se for alto, vale a pena ser pago. E depois ele ressuscitou, para nos mostrar que ele vive, que isso tudo não acabou há dois mil anos atrás; que existe algo da parte dele para nós, um propósito, um chamado, uma missão. Que grandes coisas estão por vir e que a primeira delas é aprendermos a amar, amar, amar e perdoar.
Para mim, Natal, se não é para isso, para que seria? Como honrar mais o aniversariante do que seguindo seus passos?